LIVROS E BICHOS

Este é o blog da Tércia Montenegro, dedicado preferencialmente a livros e bichos - mas o internauta munido de paciência também encontrará outros assuntos.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Pequena & Mika



Pequena e Mika são as gatinhas do casal Bruno e Clara. A primeira é uma cinzenta estilosa, e a outra uma hedonista convicta, que sabe como é bom se esparramar de preguiça! Duas figuras que vêm alegrar este blog; merci pelas fotos, Bruno!

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Poça de água
















Recordo bem este medo da infância.
Evitava as poças,
sobretudo as novas, após a chuva.
Afinal, uma delas poderia não ter fundo,
ainda que parecesse igual às outras.

Ponho o pé e, de súbito, afundar-me-ei,
voando para baixo,
cada vez mais baixo,
rumo às nuvens refletidas
ou talvez mais além.

Depois a poça secar-se-á,
fechar-se-á por cima de mim,
e eu para sempre trancada - onde -
ficarei com um grito não repercutido à superfície.

Só mais tarde compreendi que
nem todas as más aventuras
cabem nas regras do mundo
e mesmo que o quisessem,
não poderiam acontecer.

(Wislawa Szymborska)

terça-feira, 27 de abril de 2010

Um poema de Wislawa Szymborska

Um não acabar mais

Sou quem sou.
Um acaso inconcebível
como todos os acasos.

Outros antepassados
poderiam, afinal, ser os meus,
e então de outro ninho
sairia voando,
de debaixo de outro tronco
rastejaria, coberta de escamas.

No guarda-roupa da Natureza
há trajes de sobra:
o traje da aranha, da gaivota, do rato do campo.
Cada um assenta de imediato que nem uma luva
e usa-se obedientemente
até se gastar por completo.

Eu tampouco tive alternativa,
mas não me queixo.
Poderia ser alguém
muito menos individual.
Alguém do cardume, do formigueiro, do enxame zuninte,
uma partícula da paisagem agitada pelo vento.

Alguém muito menos feliz,
criado para dar a pele,
para a mesa festiva,
ou algo que nadasse sob a lente.

Uma árvore presa à terra,
da qual o fogo se aproximasse.

Um mero cisco esmagado
pela marcha dos acontecimentos inconcebíveis.

Um indivíduo nascido sob a estrela ruim
que para outros seria boa.

E o que seria se despertasse nas pessoas medo?
Ou só aversão?
Ou só piedade?

Se não tivesse nascido
na tribo certa
e todos os caminhos se me fechassem?

Até agora, a sorte
mostrou-se-me favorável.

Poderia não ter-me sido dada
a recordação dos bons instantes.

Poderia ter-me sido negada
a tendência para comparar.

Poderia até ser eu própria
mas sem o dom da admiração,
quer dizer - alguém completamente diferente.

domingo, 25 de abril de 2010

Ga(ro)tas



Estas são as meninas do Emerson: a inesquecível siamesa Gaia e as charmosíssimas Jade e Frida.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Flor da pele

Fortaleza me desperta, na maior parte das manhãs, com seu mormaço-aconchego. O lençol por um instante se enfuna, feito vela de jangada. Depois, vem a sensação múltipla da água, da espuma no banho um pouco salino – típico nas bandas de cá. A textura da roupa é leve: jamais o escudo dos casacos, com cada peça (gorro, luvas, meias, botas...) montada como um lego para enfrentar o frio. Em Fortaleza, um vestido e umas sandálias bastam – o calor vira liberdade. A cidade também esvoaça; a brisa é seu refresco, refrigério de quem afunda os pés na areia ou dribla as irregulares calçadas.
Numa maquete imaginária, toco as arestas dos prédios, as antenas parabólicas agudas como alfinetes, os vitrais da Sé – a rosácea que provoca um arrepio. Testo a planura da praia com meus dedos, levo grãos sob as unhas. Sinto o picotar da grama, suas miúdas espadas. Percebo a lenta correnteza do asfalto: cada buraco, uma ferida, chaga aberta no solo para a mágoa dos que passam. O mar como um grande olho azulado, e as carnaubeiras como palmas de ouriço. Roço em árvores crespas, e seus troncos fibrosos são as mãos de um querido avô. Espalmo de uma só vez as pastilhas do painel de Aldemir, no Dragão. E, de repente, o Mercado Central, com o algodão grosso das redes, o desenho das rendas, o labirinto das palhas...
Percorro Fortaleza como se palmilhasse a linha de um músculo. Transformo o tato numa experiência de concentração. Olhos fechados para entender o toque do mundo sobre a pele, para aceitar cada partícula ou pressão. A cidade e o corpo são territórios conjugados. Fortaleza é a memória volátil de gatos e aves, de livros, giz, de xícaras de café. É uma espécie de resumo sentimental de tudo o que vira substância: os lábios, a trama dos cabelos e, por fim, o corpo amado, na espessura baça da noite.
Fortaleza é minha extensão táctil, é o espaço onde um dia servirei de seiva e semente, desabrochando para conhecê-la então por baixo, em sua geografia de terra úmida – e talvez suave.

Tércia Montenegro

(esta crônica foi publicada no jornal O Povo, em 2009, mas eu a resgato aqui, em homenagem ao último dia 13, aniversário de minha cidade)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Palestras à vista

Na próxima semana, devo fazer duas palestras abertas ao público.
No dia 27, terça-feira, às 16h50, no Auditório do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, dentro da programação do Seminário Internacional de Arte e Cidades na Sociedade Contemporânea, falarei sobre Literatura e Tragédia.
No dia 28, é a vez de tratar d'O teatro de Rachel de Queiroz, às 19h, na Escola Educar do Sesc: essa é uma reprise da proposta que levei à Bienal, mas que foi cortada pela metade, por causa do tempo. Esperemos que dessa vez tudo seja mais tranquilo...
Sintam-se todos convidados para essas conversas!


quarta-feira, 21 de abril de 2010

Música indígena

Gravei este trechinho de uma canção da Marlui Miranda, em show na Bienal, com John Surman.

Uma tarde com Nice e Estrigas


Seguindo a orientação da amiga veterana em visitas ao casal artista, chegamos à antiga casa do Mondubim. Na última parte do trajeto, plaquinhas verdes fixadas em postes anunciam o Minimuseu Firmeza, e sem grande dificuldade acompanhamos os vestígios da via férrea.

Logo na entrada, a sensação é a de mudanças bruscas – de temperatura, primeiro: sob a sombra de muitas árvores, esquecemos que há pouco rodávamos pelo asfalto escaldante. Percebemos o ritmo delicado e lento das conversas que se tecem, a partir dos cumprimentos de Nice, sempre com uma flor no cabelo e disposta a oferecer um adorno idêntico – colhido no variado jardim – a toda mulher que apareça. Coloco também uma florzinha atrás da orelha, como se a partir daquele gesto adotasse um ritual de beleza eternamente válido. Pouco depois, surge Nilo – o Estrigas, como a arte o consagrou, ratificando um apelido dos tempos de estudante.

O Minimuseu Firmeza se abre na primeira sala, com a presença dos quadros dispostos em ordem histórica, para o estudo vivo dos principais nomes das artes plásticas cearenses. Penso na chamada síndrome de Sthendal, assim conhecida por ter afligido o autor francês em visita à Itália. A tal síndrome consiste em sentir-se desfalecer diante de inestimáveis obras de arte. Não nego que, por temperamento, sou acostumada a perder o fôlego e sentir palpitações – os típicos sintomas – quando algo me embevece. Pois ali, no Minimuseu Firmeza, o desafio foi controlar a emoção...

Além das pinturas que palmilham todas as paredes, esculturas de vários autores e texturas têm espaço garantido, em cima das mesas ou em nichos estratégicos. Num dos cantos, descubro inclusive um desenho de Rubem Braga, estrela (ou flor?) que o cronista desenhou para Nice em 1976. Duas salas contíguas completam o acervo, com obras dos próprios donos da casa e de quarenta amigos que lhes fizeram retratos, ao longo dos anos e utilizando os mais diversos estilos.

Enquanto passeiam pela coleção, Nice e Estrigas fazem comentários. Ela, cheia de pendor sentimental, lembra os detalhes com que determinadas peças foram produzidas ou a quem pertenceram anteriormente. Ele, mais técnico, aponta qualidades das telas e disserta sobre os vícios da estética atual. Nice e Estrigas certa vez se definiram como temperamentos díspares mas essencialmente complementares, feito o sol e a lua. Isso transparece a quem escuta os dois em conversa, um sempre respeitando o momento de fala do outro, sem jamais lhe cortar a palavra. Ele, com sua voz baixa, frases mais contidas e certas ironias, que pontua por um olhar arguto ou gesto de mão. Ela, sorridente e animada, complementando episódios com descrições repletas de minúcias.

Falar de como se conheceram é uma viagem no tempo, com as delícias do repertório de uma memória intacta, viva como se folheada em livro. E livros também são muitos, que Estrigas publicou dentro de um compromisso crítico, histórico ou biográfico para a homenagem de artistas como Barrica, Chico da Silva ou Raimundo Cela. Recentemente, a segunda edição de sua obra sobre o Salão de Abril foi disponibilizada ao público, e também em 2009 Gilmar de Carvalho publicou A grande arte de Estrigas, coletânea de entrevistas.

Nice narra episódios engraçados da época da SCAP (Sociedade Cearense de Artes Plásticas), que promoveu na década de 1950 o curso livre de desenho onde ela e Nilo se conheceram. Ambos relembram companheiros, muitos da área literária, membros do grupo Clã, como Eduardo Campos e Braga Montenegro, que estavam sempre antenados com as novidades na pintura e depois acompanharam de perto as edições do Salão de Abril. O sabor nostálgico vem com a ideia de um tipo de inocência, algo que para a maioria das pessoas acontece feito uma lufada durante a juventude, mas depois passa, sob o peso do aprendizado duro – são as desilusões que vêm, trazidas pelo público, pelo mercado da arte, ou mesmo pela própria humanidade.

Com Nice e Estrigas, ao contrário, tal desengano nunca ocorreu. Permanecem inocentes e lúcidos de um modo tão espontâneo que me esqueço do paradoxo entre estas duas qualidades. Na companhia deles, é fácil relaxar e perceber como a simplicidade existe – como um milagre existe, sem truque ou ilusão. O segredo? Bem, talvez parte considerável dele esteja no caráter, que é coisa intransferível. Junte-se a isso uma maneira toda especial de se recolher no abrigo e, ao mesmo tempo, participar dos eventos do mundo. Assim é o sítio no Mondubim: refúgio sem concessões, território sagrado de paz. Ali o casal vive há décadas, e dali se expande em arte e convívios, sem contaminar-se com o trivial ou a violência.

Mas a outra parte do segredo, sem dúvida, está com as crianças. Depois do café com tapioca, Nice me fala de seu grande amor pelo magistério aos pequenos. Enfatiza a admiração pelos meninos e meninas que ensina a pintar – e nisso revela a generosidade de quem não se contenta em produzir a própria obra, mas quer passar adiante o conhecimento e, mais do que ele, a paixão pela arte.

Nice educadora, ou Nice cozinheira, bordadeira, é a mesma mulher inventiva das telas. Afetuosa com pessoas, bichos ou plantas, leva-me a conhecer o baobá de suas terras como se me apresentasse a um venerável avô. Antes que eu termine a visita, faz questão de me presentear com frutas, e penso que elas servirão de lembrança concreta aos meus sentidos, alerta benfajezo, para que eu não pense que toda essa visita mágica aconteceu somente em sonho.

Na despedida, ainda ganho de presente flores do baobá, que são figuras estranhas, de caule interminável – um verdadeiro caule pescoço-de-girafa, que desponta num cume de pétalas assimétricas e aveludadas, rígidas no sépia que as secou e as tornou eternas. Agora elas vivem, com suas sementes de grandeza, adormecidas num jarro posto em minha casa. Para mim, são como o símbolo de que a força nasce lenta e se adensa silenciosa. As flores do baobá são miniaturas da planta-monumento, e não é à toa que Nice e Estrigas têm no quintal uma árvore dessa natureza.


Tércia Montenegro (crônica publicada na revista Para Mamíferos n°2)

domingo, 18 de abril de 2010

Abril na Bienal






Finda a Bienal, resta a memória de dias intensos, principalmente pela boa sensação de encontrar pessoas queridas, tão preciosas - amigos, alunos, conhecidos que de repente se tornam próximos, se fazem íntimos e acrescentam um pouco de sentido ao gesto de viver. Com essas pessoas, volta meu desejo antigo de observação: às vezes esqueço que sou gente, penso que me transformo em câmera e minha finalidade é apenas essa - fotografar, registrar detalhes, feições, sorrisos, tudo armazenado numa sequência misteriosa de impulsos sensíveis. Existe um nome para isso? Qualquer sugestão é insuficiente...

* Legenda das fotos acima:
1) John Surman e Marlui Miranda, em show belíssimo
2) Ana Miranda entre livros, em palestra
3) Na fila dos autógrafos
4) Em mesa-redonda, ao lado do Pedro
5) No lançamento de meu livro, com os leitores mirins

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Il paradiso e la felicità

Josh Groban certamente trouxe-me um paradiso belo, mais belo impossível - não vou buscar outros. Mas falar em música italiana é lembrar sempre Lucio Dalla, com Caruso e, sobretudo, La Felicità. Su quale treno della notte viaggerai?

Assim nasce uma escritora

O velho Machado já repetia que o menino é o pai do homem: experiência sábia quase sempre comprovada. Os gostos da infância acabam sendo os mesmos da vida adulta, e o temperamento de toda pessoa cedo se anuncia. Há, lógico, os casos misteriosos, de guinada brusca, quando o sujeito parece entregar as rédeas ao cavalo cego do destino – mas, ainda que tudo pareça absurdo e ocasional na trajetória de um indivíduo, ao final percebe-se que não é. Houve sempre um propósito, camuflado embora, em cada atitude impulsiva ou aparente disparate. Quando se revisa o percurso biográfico de alguém, o que sobressai é a sensação de coerência pelo conjunto: aquele caminho abriu-se neste outro, esta estrada levou àquele trajeto... e assim por diante.

A história de Rachel de Queiroz ilustra bem essa ideia de Grande Narração, que condensa a vida de qualquer pessoa. Imagine o ser humano no papel de um personagem convincente. Como nasceria, dentro de um relato, uma protagonista que fosse escritora? Uma brasileira no começo do século XX, nascida com o propósito de inovar a literatura do país? Pensamos logo numa figura de caráter forte, moldada dentro de uma família que lhe servisse de inspiração e, ao mesmo tempo, lhe insuflasse liberdade criativa. Assim foi com Rachel. Criou-se em berço de intelectuais, com uma bisavó prima do escritor José de Alencar, com o pai juiz e professor, ensinando-lhe em casa os grandes feitos da humanidade, e a mãe, tão bela e jovem, sugerindo leituras e, mais tarde, opinando em seus primeiros escritos.

O sertão foi um capítulo à parte. Decisivo. A menina viu a luz do mundo em Fortaleza, a 17 de novembro de 1910 – mas o interior do Ceará seria o espaço que lhe abrasaria a alma. Quixadá, cidade em que os Queiroz tinham profundas raízes, era a sua terra prometida. Afinal, certa tarde, a garota Rachel fez por ali um passeio inesquecível. Na companhia do pai, selou o Kaiser, um belo garanhão inglês, e saíram num trote suave. Em frente à Lagoa do Seixo, o pai lhe disse: “Aqui você um dia terá sua fazenda.” Era a promessa de que o sertão nunca lhe sairia da existência, e ali, muitos anos depois, a autora de O Quinze realmente ergueu os alicerces de uma construção.

Mas Rachel também viajou muito durante a infância. Com a família, residiu no Rio de Janeiro e, depois, em Belém. Sempre recordaria o trajeto que, aos sete anos de idade, a levou ao Rio. Em determinado momento, quando passavam entre Sergipe e Alagoas, o piloto do navio a chamou, para que ela visse o rio São Francisco. A menina sentiu escapar o fôlego, diante da beleza da paisagem. Tempos adiante, seria numa idêntica viagem – também de navio, para receber o prêmio da Fundação Graça Aranha – que Rachel, já romancista, conheceria o seu primeiro marido, em Recife.

Não foi com ele, porém, mas com seu segundo esposo, que Rachel construiu a fazenda em Quixadá. Aquela não virou uma residência permanente, mas era um território de lembranças, sempre visitado com o sabor das saudades. O nome, Não me deixes, surgia como um apelo da própria terra a sua filha escritora, viajante de tantas partidas, moradora de vários lugares. Assim, cada vez que Rachel retornava a essa fazenda, sentia que aquele era o seu local definitivo. Mesmo que depois tornasse a partir, olhava para trás ao cruzar os portões e lia a placa: Não me deixes. Poderia responder então em silêncio: Não, não te deixo. Levo-te comigo, no coração. E fico também um pouco, lanço raízes invisíveis, mas raízes que tu podes sentir, minha terra, pulsando dentro de cada um dos teus grãos. Nenhuma de nós jamais deixará a outra.

A literatura de Rachel seria uma prova de sua imersão no ambiente sertanejo. Personagens e paisagens de êxodo, tristeza e dor, no contraste com a abundância de épocas férteis – tudo isso nascia da observação e da pesquisa, no gesto criativo da autora. Um gesto que teve força revolucionária dentro do regionalismo dos anos 30, então no princípio quando O Quinze se anunciou. Era a fase madura do Modernismo, e um dos nomes mais importantes seria o dessa jovem, professora e cronista. Rachel de Queiroz estreava no romance com um ímpeto estabelecido, um estilo que não perderia de vista até o seu último título, sete décadas mais tarde.

Os episódios de uma vida são múltiplos e provavelmente incontáveis. A memória, por outro lado, existe apenas por ser seletiva. Podemos então selecionar alguns momentos representativos da infância de Rachel como prova do que ela viria a ser, da escritora anunciada que já trazia em si. Pensamos na leitora voraz, decifrando, aos cinco anos, trechos do Ubirajara. Na menina junto com os irmãos e primos, em recitais de poesia, ou criando teatrinho para os pais. Na garota com seus cadernos pautados, rascunhando os primeiros textos, que escondia de todos – a mesma que, pouco depois, decidida, começaria a enviar crônicas para os principais jornais de sua cidade.

Em cada detalhe já sobressai, mesmo que tímida, a inquietação desse algo a mais que define o artista. Algo que se busca, que se pretende criar porque é preciso que exista – e, se perguntam por quê, o artista talvez responda que precisa criar pelo valor da beleza, ou por um compromisso humanitário, ou pela simples diversão... Mas subjaz no seu íntimo a ideia de que não há resposta. Há apenas o impulso, a inquietação. O que explica que Rachel, em muitas entrevistas, confessasse que escrever era, para si, uma coisa cansativa. Mas prosseguia escrevendo. Não podia, como artista, deixar de fazê-lo.

Não existe receita única para se fazer um escritor, óbvio. Mas juntar os elos – família, espaço, convívio com a literatura – parece a tendência mais simples, de resultado porém incerto. A “fórmula” carece de uma química específica, intangível e secreta. Não se pode nomeá-la, mas é bem fácil reconhecê-la. Desde a infância de uma pessoa, a Grande Narração se constrói, injetando a cada dia um pouco do que, no futuro, lhe será de proveito. Rachel de Queiroz, como personagem, é um bom exemplo. Com sua história, percebemos que só se escreve aquilo que muito antes, em vida, tinha já sido inscrito.


Tércia Montenegro (crônica publicada em fascículo especial em homenagem a Rachel de Queiroz, no jornal O Povo, em 14/04/2010)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Minha programação na Bienal

Dia 10 de abril - mesa-redonda ao lado de queridos amigos, na Arena Memorial de Maria Moura, às 15h. Tema: Conto ou não conto?

Dia 13 - lançamento da revista Para Mamíferos n°2, a partir das 19h30, também na Arena MMM

Dia 14 - lançamento de Rachel: o mundo por escrito, às 16h, no Café Literário

Dia 15 - lançamento de Instruções para beijar, dentro do projeto Bazar das Letras, no Espaço Não me Deixes, às 17h

Dia 17 - palestra sobre o teatro de Rachel de Queiroz, às 15h30, na sala As Três Marias

Também em qualquer dia, a qualquer hora, estarei na plateia de todo evento interessante que esteja acontecendo. Confiram a programação completa da Bienal do Livro no site da Secult!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Álbum de família



Estas são as fotos dos saudosos bichanos do Nirton: o elegante casal Jovi e Juma e a Princesa, bela amarela. Infelizmente, nós que amamos os animais sofremos com sua finitude, tantas vezes mais apressada que a nossa. Mas ao menos restam as imagens, memória-consolo de um tempo de amor incondicional, gratificante e mútuo.