LIVROS E BICHOS

Este é o blog da Tércia Montenegro, dedicado preferencialmente a livros e bichos - mas o internauta munido de paciência também encontrará outros assuntos.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Das dificuldades de ser zen



Presente do amigo Carlos Costa: este endereço eletrônico que agora transmito a todos os gatófilos que me lêem - http://miezekatzen.tumblr.com/archive
Foi deste site que tirei as fotos acima, para expressar o clima de fim-de-férias. O pacífico gato que medita também passa por seus instantes de algazarra e desejo...

domingo, 23 de janeiro de 2011

João Ubaldo


Artigo do meu querido amigo Juva, publicado hoje no jornal O Povo:

Almazinha brasileira: modos de ser


É das boas ideias da literatura brasileira a criação de uma almazinha que sobrevoe as inúmeras histórias que compõem um romance e não se identifique de modo restrito com nenhum personagem; antes, de maneiras diversas, consiga ser cada um deles e ao mesmo tempo não ser nenhum, sendo essa almazinha apenas ela mesma, igual a si mesma, de algum modo única e sozinha. A almazinha que surge às primeiras páginas do romance Viva o povo brasileiro, do escritor João Ubaldo Ribeiro, que faz, neste dia 23 de janeiro, 70 anos, atravessa três séculos e algumas gerações, sempre a encarnar em pobres-diabos, índios tupinambás, negrinhas escravas maltratadas ou ainda soldados brasileiros mortos na flor da idade, como foi o caso do pescador e alferes José Francisco Brandão Galvão.


O jovem, atingido pelas balas de algumas embarcações portuguesas, cai morto no cais da Ponta das Baleias, na Baía de Todos os Santos, com um olho furado e o crânio em pedaços. Mas José Francisco, alferes menos por nomeação de patente e mais por assim o chamarem, graças às palavras de amor à pátria que teria supostamente proferido à hora da morte e que somente as gaivotas escutaram, tornou-se, da noite para o dia, um herói da independência, e seu discurso inaudito, peça fervorosamente homenageada, repetida e parodiada em versos e quadrinhas.


Neste dia de 1822, a almazinha que habitava o corpo do alferes um segundo antes do passamento afinal se despega, às carreiras, e sobe mais uma vez aos céus, aboletando-se no lugar onde se aboletam as almas enquanto esperam pelo momento de mais uma vez poderem descer e encarnar nalgum bicho ou homem ou mesmo numa planta. Permanecendo almas, as almas não aprendem nada; encarnando em bicho, homem ou planta, aprendem as razões da vida. As almas precisam ser, e cada encarnação de uma alma é um modo de ser. E é essa almazinha brasileira que acaba por ser, ao fim e ao cabo, a mais constante protagonista do caudaloso romance de João Ubaldo. Ela entra e sai das histórias mais diversas, através de encarnações e desencarnações que partem do século XVII e chegam ao XX — quatro séculos de sofrimentos, tiranias, humilhações, festas e superações —, para compor a eloquente amostra de alguns específicos modos de ser brasileiro. Quais modos de ser?


Do entrelaçamento de todas as histórias do livro e dos cruzamentos familiares verificados ao longo de tantas décadas destacam-se, do quadro ficcional, três personagens, analisados pela professora Eneida Leal Cunha, na sua tese Estampas do imaginário — literatura, cultura, história e identidade (Dep. Letras, PUC-Rio, Rio de Janeiro, 1993): um pescador, o José Francisco, que a posteridade somente reconhece como o heroico alferes Brandão Galvão; um índio, que chamam de Capiroba; e ainda uma mulher, bandida, de nome Maria da Fé. Os três personagens carregam por toda a vida, habitando-lhes as entranhas, a almazinha brasileira que constitui o ser do romance; e carregam também, agora nos ombros, a responsabilidade de constituírem, cada um à sua maneira, uma tentativa de representação da assim chamada identidade nacional.


O jovem alferes Brandão Galvão — bem menos presente na história do que os outros dois, e justamente por isso, ou seja, por sua vida curta e seu heroísmo precoce — encarnará, com o famoso discurso às gaivotas, a ideia do patriotismo vazio, e silencioso, que atravessa o imaginário brasileiro, do povo às elites. O “caboco” Capiroba, índio tupinambá, habitante da ilha de Itaparica pelos idos de 1647, canibal de gosto exigente e profundo apreciador da carne holandesa, transforma-se, com a sua eloquente presença, na possibilidade de se poder ouvir uma voz que resta sempre silenciada nos relatos da história oficial: a voz do índio em processo de catequização. E transforma-se também — porque o centro da ação, aqui, é a catequese que teve de ser levada a cabo e à força, uma vez que o índio não se submeteu à conversão — no produto, levado às últimas consequências antropofágicas, do que lhe haviam ensinado os padres jesuítas com a celebração da Eucaristia.


A terceira principal encarnação da almazinha brasileira recairá sobre uma mulher: a jovem guerrilheira Maria da Fé — personagem possuidora da mais poderosa biografia do livro, tamanha a variedade cultural e étnica de suas ascendências. Como observou Eneida Leal, ao contrário de Brandão Galvão e de Capiroba, Maria da Fé não constitui uma recriação a partir de nenhum modelo já consagrado na história oficial, tal como o são o jovem soldado herói e o selvagem canibal que precisa da catequese para encontrar a civilidade, e depois a salvação, em Deus. Maria da Fé, pura criação ficcional, parece constituir uma vontade do autor de que seja ela, das três, a mais apropriada encarnação da alma do povo brasileiro — almazinha inquieta e indecisa, é verdade, mas possuidora de um grande desejo de ser.

E é por isso, e por outras tantas razões, que o título Viva o povo brasileiro deve ser lido não como uma exclamação — que não é —, mas como a manifestação deste desejo: o desejo de que um povo viva e permaneça; ou, ainda, como uma exortação: que se viva o povo brasileiro, ou seja, que se experimentem e se conheçam este povo e os seus diversos modos de ser. Vivamos este povo brasileiro, o que não deixa de ser una forma de se viver e conhecer, também, e de forma poderosa, o escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro.

Juva Batella, escritor, doutor em Literatura pela PUC-Rio, autor da tese Este lado para dentro: ficção, confissão e disfarce em João Ubaldo Ribeiro. Mora atualmente em Lisboa.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Lobo Antunes


Retomo minha pesquisa sobre os primeiros livros do Lobo Antunes (Memória de elefante, Os cus de Judas e Fado Alexandrino). Vale a pena parar um instante para saborear um trecho incrível:

"Por qualquer motivo que desconheço moro num sonho inusitado com chuva verdadeira dentro."

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Pierre e Claudia

Quando vi pela primeira vez o trabalho de Claudia Andujar, logo tive em mente as obras de Pierre Verger. Havia muitas razões para aproximá-los, e a mais superficial apontava ambos como fotógrafos estrangeiros que fizeram do Brasil sua voluntária pátria.

Descobri Claudia no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Numa das salas de exposição, deparei com uma série dos seus retratos de ianomâmis. Cada um deles – não importava a idade, o sexo – trazia pendurada no pescoço uma plaqueta com um número. Foi a maneira de identificar os que já tinham sido vacinados, a forma encontrada pela pequena equipe assistencial, para organizá-los numa espécie de lista. Claudia passou cinco anos fotografando os ianomâmis. Em quase todas as imagens, vemos que os números são artifícios violentamente alheios à cultura, à expressão facial daquela gente de olhos rasgados e selvagem timidez.

Apenas dois idosos sorriem para a câmera, um com a boca escancarada, com dentes ruins e expostos de um jeito irreverente, quase pop. O outro pisca na hora da foto; de repente, percebo que de fato não são velhos; devem ter trinta, no máximo quarenta anos. Mas é que seus rostos têm marcas de floresta...

Um rapazinho gracioso – o número 4 – põe o dedo na boca e inclina a cabeça; quase ri. Tem uns olhos imensos, meio extraterrestres. Os índios de números 79 e 85 ensaiam um sorriso, mas estão desconfortáveis, numa pose de galãs. E as moças de seios nus, com meninos no colo (que seguram com displicente amor), têm na maioria um ar distraído. O bebê de número 20 chora; tem os lábios contritos, duas lágrimas se empoçam sob seus olhos.

A exposição se chamava “Marcados para”, e o texto explicativo trazia uma nota pessoal, sobre a família de Claudia. Seu pai, um judeu húngaro, recebeu o rótulo da estrela-de-davi pouco antes de ser levado para Auschwitz. Aquele símbolo, costurado às roupas, era uma marca que conduzia à morte. Ao contrário, a plaqueta identificatória marcava os ianomâmis com intenções de vida e saúde.

Ora, as fotografias de Pierre Verger também são, a um tempo, obras de arte e de antropologia. Diante do preto-e-branco de suas imagens, inclinam-se igualmente os estudiosos e os maravilhados. E há – para além do que o corpo e a paisagem revelam – uma tentativa de ultrapassar a cena e mostrar o abstrato, a pulsão do sentimento, o viés supracultural. Assim, retratando rituais religiosos de povos africanos ou indígenas, Pierre e Claudia conseguiram (cada qual dentro de seu tempo e sua intenção) elaborar um estético espiritualizado. É neste ponto, creio, que reside o traço que mais os aproxima. As fotografias de ambos evidenciam qualquer coisa intangível que, em última instância, une todos os artistas. É algo relativo a uma sensibilidade específica, que ultrapassa estilo ou modo de se expressar.



Tércia Montenegro (artigo publicado hoje, na coluna Opinião do jornal O Povo. Disponível também em http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2011/01/19/noticiaopiniaojornal,2091551/pierre-e-claudia.shtml)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Borboletas

Para comover borboletas é o título de um belo livro do Kelson Oliveira. Reproduzo aqui um dos poemas, que conheci ontem:

FEITO SEREIA DE CONTOS

Ela tinha um rosto de metáfora
e o corpo de clave de sol.
A voz era um musical de sereia de contos,
enfeitada de mar.
Pela beleza que lhe pertencia
podia perfeitamente se misturar
com as cores de Van Gogh.
Apesar disso, ela preferiu se misturar comigo.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Nino

Conheci este gatão lindo no réveillon, em casa dos amigos Carlos, Branca e Júlia. Olhar para ele é ser imediatamente contagiado pela preguiça, pela manha e pelo conforto de viver, não?

domingo, 16 de janeiro de 2011

Romances


Leio A arte do romance, do Kundera, e, embora este livro não seja absolutamente um manual, suas reflexões trazem bons aconselhamentos. O que mais me interessou até agora foi o capítulo inicial, que trata da paralisia contemporânea, do rodar em torno de velhas ideias e convicções, para repetir fórmulas confortáveis - tudo o que existe de estéril, em termos de arte. O romance, ao contrário, tem sempre algo a descobrir, e carrega a "sabedoria da incerteza".
O "turbilhão da redução", mania atual que persegue estereótipos e comanda o gosto através das mídias, é um veneno para a essência - sempre complexa - de um romance. A única forma de este gênero sobreviver efetivamente (com criatividade, não por mera reprodução, mas significando mudança ou descoberta), nos dias de hoje, está na caminhada "contra o progresso do mundo" - e aqui Kundera rejeita os valores nada valiosos que nos foram impingidos pela educação, pelo comércio, pelos costumes religiosos etc. Tudo o que representa resposta pronta ou rápida é antiromanesco. Não se trata, óbvio, da defesa de narrativas necessariamente extensas, ou unas, sem a tal fragmentação pós-moderna ou o que quer que seja. O que Kundera celebra é um espírito de inventividade e indagação que só pode persistir longe de soluções pasteurizadas, todas essas que explodem nas propagandas e nas modas frenéticas.
Olhar para si, com calma e disposição, e perguntar pelo que pode ser novo, é um gesto vital para o romancista. E este "novo" não se confunde com o hermético, ou com o vanguardista - que, de resto, já tem sabor de passado. É o novo na esfera individual, a única onde circulamos, afinal, por mais que o mundo (virtual ou globalizado) queira afirmar o contrário.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Livros-esculturas

A obra acima é da artista irlandesa Jacqueline Rush Lee, que faz esculturas com livros. À primeira vista parece difícil identificar a matéria-prima deste cavalo? Mas basta olhar com atenção para perceber: são diversos livros, trabalhados de um jeito plástico, para montar a figura. Páginas, lombadas e capas são desconstruídas sob uma técnica que "petrifica" os volumes em determinada postura.
Confesso que conhecer a obra de Jacqueline me deu arrepios díspares. Primeiro, adorei a beleza das imagens, a suavidade e a destreza das peças. Mas não consegui disfarçar o lamento pelos livros que foram sacrificados ali e jamais voltarão à sua função natural, dissolvidos pelo anonimato de participarem das partes de uma escultura. Entretanto, consolo-me pensando que para alguns livros seria já bastante mérito integrar uma obra assim. Há tanta coisa inútil que se publica, que seriam necessárias várias Jacquelines talentosas para dar enfim uma serventia a essas páginas vãs...

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Minha primeira língua eslava


Desde o semestre passado eu tinha desejado me matricular no curso de polonês, na Casa de Cultura. Entretanto, as aulas (sempre às sextas-feiras) se chocavam com meu horário de trabalho. No início desta semana, então, foi com um arrepio de êxtase que soube do curso intensivo, até meados de fevereiro. Matriculei-me sem contar para quase ninguém - afinal, não queria ouvir o velho discurso sobre "aprendizados inúteis", "perda de tempo" etc. Pois deparei com uma sala alegremente lotada, cheia de gente disposta a se encantar e se divertir com uma língua, para nós, bem exótica. Eu mesma não pensei que fosse gostar tanto de dificuldades assim - tudo é muito complicado (pelo menos neste início), mas cada pronúncia bem sucedida dá um clima de vitória, e o polonês tem uma sonoridade tão suave que se torna belo mesmo quando pouco se entende: são sussuros, sibilantes, sons discretos e minimalistas - coisa bem diferente da abertura e do arrebatamento italiano (que também aprecio, lógico, mas em outras circunstâncias).
O mais importante, entretanto, é a possibilidade de ler no original os poemas da Wisława, sobretudo o seu livro Wołanie do Yeti, que - pressinto - vai significar muito para o romance que estou escrevendo... E, querendo ou não, fazer o curso de polonês é uma ousadia que me abre as portas para o russo, futuramente. Quem sabe o que ainda virá?
Cześć!

domingo, 9 de janeiro de 2011

A leitora caótica










Como sempre, tenho uma ordem caótica de leitura, guiada pelo que me atrai no momento em minha biblioteca, ou pelo que me chega às mãos por um empréstimo ou presente amigo. Assim, depois de fragmentariamente me dedicar à odisséia joyceana (com a ajuda do Nabokov, que na sequência li em romance), passei um tempo com ótimos quadrinhos, ficando cada vez mais fã da dupla Gaiman-McKean. Tudo isso, porém, foi cruzado com a leitura de contos e de textos técnicos para a montagem de material acadêmico do próximo semestre (o mais recente, de ontem, foi Lector in fabula, do maravilhoso Eco). Agora, estou submersa na história da arte do Gombrich, que tem pretensões bem didáticas, mas é boa para suavizar as reflexões. O próximo passo nessa área será A transfiguração do lugar-comum, de Arthur C. Danto, mas isso vem depois. Por enquanto, devo continuar também com poesia, e escolhi (ou fui escolhida por) uma caótica autora, Sylvia Plath. Chegou a hora do Ariel, que ganhei do Pedro no Natal de 2007. Os poemas são lindos e fortes e têm uma sonoridade que exige a leitura no original. A edição bilíngue tem me facilitado a tarefa, e aos poucos me alegro ao perceber que tudo fica mais fluido.

A disturbance in mirrors,
The sea shattering its grey one -
Love, love, my season.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Loirice


A amiga Margleice enviou a foto desta princesa loira - um mimo para este blog. Merci!!!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O vazio

De vez em quando, sinto um impulso específico que me faz refletir sobre o destino e seus arredores. Ponho-me a pensar que tudo deriva de circunstâncias ocasionais, que escapam ao nosso poder. Se, por exemplo, eu tivesse nascido num século medieval, é provável que não chegasse a completar trinta anos. Muito antes, estaria morta de parto ou de peste. Teria vivido minha curta existência num estado bruto e analfabeto; seria selvagem e suja, e talvez tivesse gasto o tempo reclusa num monastério. Porém, por mais que essa mulher fosse diferente de minha atual condição, num ponto seríamos a mesma: no desejo de aprendizado. Tal ímpeto não muda, embora tanto variem os ensinamentos e as verdades.

Qualquer que seja a época, passamos os dias aprendendo a melhor forma de viver e de entender a nós e ao mundo. As pessoas de hoje têm, teoricamente, mais condições e saúde para isso – no entanto, nunca se viu tanta superficialidade, tanto apelo ilusório para que a gente se mantenha de olhos fechados. Existem inúmeras convicções e dogmas contemporâneos, fórmulas infalíveis que espocam tanto na mídia como no discurso de um alcoolizado. Ora, não é através de certezas que se chegará a algum tipo de segurança – muito pelo contrário. As respostas não interessam; os estudos filosóficos e históricos mostram bem como elas são instrumentos frágeis e reformuláveis. Em nome de soluções e palavras finais, quantos crimes e guerras já não tentaram ser explicados? Tudo absurdo, pois não existe o definitivo ou o permanente.

Interessantes, sim, são as perguntas, que apontam para abismos. É um fascínio perceber como a espécie humana formula dúvidas, cria assombrosas angústias. A ajuda espiritual ou psíquica surge como outro gesto de resposta, afirmação que abranda as dores abstratas. Mas não é isso o que importa – mais valiosa que a tranquilidade é a vertigem, a pré-decisão frente à encruzilhada. Porque cada um de nós parece cair dentro de vida como se encontrasse um koan, mensagem enigmática que os monges budistas lançam, feito um mote para a meditação. A maioria das pessoas então luta para racionalizar, formular leis... e nisso, perde a beleza do enigma.

Maravilhoso é mergulhar no mistério, exercitando o ato de desconhecer o mundo. Dessa maneira, mantém-se a curiosidade, o gosto infantil de conceber perguntas. Quem recebe doutrinas e verdades acha conforto na concordância, mas – quase inevitavelmente – fossiliza a vontade de criar. De olhos fechados, não vemos as miúdas tiranias que estão por toda parte e nos repetem a cada hora: “É assim e tem que ser assim!”

Desconfio dos que têm certezas cegas e brandem seus lemas como bastões da justiça. Quero antes a dúvida dos humildes, quero a fome dos que ainda têm vazios insaciáveis. São essas incompletudes que me servem e me fazem aprender, na vida.


Tércia Montenegro (crônica publicada hoje na coluna Opinião, do jornal O Povo. Disponível também em http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2011/01/05/noticiaopiniaojornal,2085927/o-vazio.shtml)

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Mundografia Moderna


Na próxima terça-feira, dia 11, às 19h30, no Centro Cultural Oboé (rua Maria Tomásia, 531) será lançado Mundografia Moderna, com texto do Silvyo Amarante e arte visual do Glauco Sobreira. A apresentação será do Raymundo Netto.
Vale a pena demais!

domingo, 2 de janeiro de 2011

Sebastian & ano-novo

Trilha sonora dos últimos dias: Belle and Sebastian (especialmente o CD Write about love). Coincidência ou não, neste grupo musical repercute o nome do protagonista de um livro do Nabokov, que acabei agorinha de ler. É dele que retiro a citação abaixo, válida para meditações várias:

“E quando o sentido de todas as coisas brilhou através de suas formas, muitas ideias e acontecimentos que tinham parecido da maior importância encolheram não à insignificância, porque nada podia ser insignificante agora, mas ao mesmo tamanho que outras ideias e acontecimentos, uma vez negada qualquer importância, agora obtinham.” (Nabokov, in A verdadeira vida de Sebastian Knigth, p.171)

Sobre a passagem de ano? Foi excelente! Uns probleminhas básicos para pegar táxi - mas nada que atrapalhasse a ótima noite (e a madrugada), com muitas conversas interessantes na casa de Carlos e Herlene. Não faltou nem mágica: canja do Pedro, que é um artista na prestidigitação! Esse foi um modo promissor de começar 2011, não? Com boas histórias e com fantasia!