LIVROS E BICHOS

Este é o blog da Tércia Montenegro, dedicado preferencialmente a livros e bichos - mas o internauta munido de paciência também encontrará outros assuntos.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

O novo Woody

Eu, que ainda não fui à capital francesa, fiquei maravilhada com o novo filme do Woody Allen - mas não apenas pela paisagem (que fique claro). O roteiro é interessante e as atuações são ótimas - com uma pequena exceção para o ator que faz o Picasso. De resto, Meia-noite em Paris supera os temas de crise existencial tão exaustivos na filmografia de Allen: ao acenar para uma perspectiva fantástica, com o resgate de famosos artistas, discute-se a questão do tempo e da permanência, da importância dos lugares e das personalidades. Mas tudo isso talvez só pudesse acontecer na devida locação. Afinal...alguém duvida que haja um clima mágico em Paris?

domingo, 26 de junho de 2011

O professor de piano

No dia 13 de julho, às 19h30, na Livraria Cultura, o escritor Rinaldo de Fernandes  lançará o seu novo livro de contos, O professor de piano. Infelizmente, eu estarei em viagem exatamente nesta data - mas quem puder conferir a oportunidade vai gostar muitíssimo, tanto da ocasião (com um bom bate-papo) quanto do livro!

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Pelas paredes




            As paredes de minha casa não são apenas sustentáculos do teto ou fronteiras métricas para cada aposento. Elas inauguram espaços para a existência de livros e quadros. Sim, pois não há convívio mais harmonioso do que entre tais objetos. Sinto-me realmente feliz dentro de um ambiente que alterne bibliotecas com pinturas. Nas prateleiras ou nos pregos, as obras descansam verticais, à espera de contemplação. São novas janelas, abertas para diversas e artísticas paisagens.
            Desde que me lembro, sou uma apaixonada pelo olhar – sobre palavras ou imagens, igualmente. Assim, comecei a comprar livros e também réplicas de quadros. Na minha ânsia de adolescente, eu não tinha grande critério, coisa que se consegue aos poucos. Mas recordo muito bem a primeira tela autêntica que comprei, e já de um ótimo artista. Na época, Fernando França era meu colega no mestrado em Letras, e dele adquiri um quadro azul, da sua série dos gatos.
            A experiência de ter um original foi viciante. Não  me tornei colecionadora nem especialista, mas ao menos comecei a observar com atenção a qualidade das imagens. Passei a visitar museus e galerias, em busca de arrebatamentos. Aprendi os muitos modos de olhar uma pintura ou fotografia, descobrindo detalhes e nuances a cada captura de vista. E também, claro, ganhei outras peças para minha casa, de vários materiais e formatos. Hoje vivo rodeada por vários quadros, desenhos e esculturas do Glauco Sobreira. Tenho duas telas do Weaver Lima e, na cozinha, três pratos pintados pela Mariza Brito. Na geladeira, ímãs reproduzem obras da Frida Kahlo ou azulejos lusitanos: servem para pregar avisos mas ao mesmo tempo seguram cartões-postais, desenhos e charges que recorto, a depender da circunstância.
No quarto de hóspedes pendurei um tapete vermelho que meu pai trouxe da Índia. A atmosfera ficou perfeita, junto com as almofadas, a estante de livros e o toca-discos com alguns LPs. Pelas paredes, estão ainda exemplos de artesanato anônimo, a preencher prateleiras e nichos secretos. É o caso do ex-voto, uma cabeça que comprei no mercado, por ser parecidíssima com a fisionomia de Drummond. Ela fez um belo par com uma peça africana encontrada na feira das nações. E no meu escritório – agora no chão –, coloquei uma réplica da roda de bicicleta, ready-made do Duchamp.
Finalmente, nas minhas paredes exponho também as fotos que realizo, num painel disposto para esta finalidade, na sala. São as únicas imagens rotativas de toda a casa:  ponho-as à vista para estudar, por temporada, as características de seus êxitos ou fracassos. Como sua autora, tenho permissão e rigor para substituí-las e até descartá-las. A obra dos outros artistas, ao contrário, eu sempre recebo como definitiva – e sagrada.

                                                                                 Tércia Montenegro
(fotógrafa, escritora e professora da UFC)

 * crônica publicada hoje na coluna Opinião do jornal O Povo. Disponível também em http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2011/06/22/noticiaopiniaojornal,2258970/pelas-paredes.shtml

domingo, 19 de junho de 2011

Filmes, filmes, filmes

Este fim-de-semana está servindo como uma verdadeira intoxicação de filmes - um pouco para "tirar o atraso", pois fazia tempo que eu não curtia um bom cinema. Ontem, vi a trilogia d'O Poderoso Chefão (com pizza nos intervalos, é claro!). Hoje o Festival Varilux de Cinema Francês me levará a ver Um gato em Paris (óbvio!) e Simon Werner desapareceu, logo mais. Amanhã ainda devo assistir a Uma doce mentira e Xeque-mate. E fica faltando, dessa lista de interesses, Lobo - que aí só vai passar na quarta-feira.
Há tantas opções de histórias em películas, que às vezes penso que a experiência de rever filmes é cada vez mais um gesto de luxo, raro. E no entanto, quanto não se aprende (pela técnica do "olhar" de uma câmera, pela interpretação ou pelo texto), quando se tem a oportunidade de rever e analisar uma grande obra! Eu tenho uma relação mental de filmes que poderia ver pelo menos dez vezes, sem jamais me entendiar. Pode ser que numa época dessas eu troque as novidades pelo convívio - mas, por enquanto, ainda não, não chegou a hora...

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Pausa para Ficção Científica

Para mim, ler ficção científica requer uma triagem obsessiva. É parecido com o que acontece com poesia ou prosa de tendência fantástica: quando o texto é fraco, não há como perdoar ou disfarçar; simplesmente fica insuportável.Outros gêneros narrativos não parecem sofrer tanto com isso, e alguns exemplos medianos tornam-se mesmo palatáveis (penso em longas listas de contos e romances), embora o ideal mesmo fosse que a gente lesse apenas obras admiráveis. Enquanto a minha tolerância ainda existe, faço concessões aqui e ali, exceto nos casos mencionados. Talvez por isso Ray Bradbury me seja tão caro; ele não decepciona nos relatos de FC, e posso mergulhar num de seus livros com tranquilidade. Atualmente faço isso com A cidade inteira dorme. Ainda não cheguei à metade do volume e já elegi dois contos indispensáveis: "O messias" e "A autêntica múmia egípcia feita em casa". O segundo não é um exemplo perfeito de FC, mas poucas vezes li coisa tão divertida (recordo algo semelhante em Kurt Vonnegut, que é outro maravilhoso, autor que fica na estante dos meus eleitos).
Para completar, Ray também é um escritor-que-posa-com-gatos, como o prova esta foto. Razão extra para confirmar a minha simpatia!

domingo, 12 de junho de 2011

Papéis (in)esperados de Cortázar

 Voltei à minha fase cortazariana, seguindo o instinto que me levou ao livro comprado mais recentemente (embora meu intuito anterior fosse seguir o percurso cronológico de escrita do autor). Eu tinha ouvido muita controvérsia na época do lançamento de Papéis inesperados, e teve gente que me disse claramente para não ler este livro, se eu queria "manter a imagem" que fazia de Cortázar. Ora, eu sempre me senti bastante melancólica ao observar as obras de uma fase decadente, de algum artista que antes foi genial. O momento certo de parar é coisa sutilíssima - e o que dizer então das obras póstumas, que surgem à revelia de seus autores (geralmente mais interessados na qualidade que nas vendas - o contrário daquilo que motiva seus herdeiros e editores)? Assim, eu suspeitava que de fato essa publicação não seria lá grande coisa em termos estéticos, embora tivesse causado uma explosão mercadológica. Pois estava enganada - completamente enganada. Que bom!
Até agora, li apenas cinco textos, mas já baixei completamente a defesa e me deixei encantar. "Manuscrito encontrado junto a uma mão" foi o golpe definitivo, o texto que prova o quanto a literatura fantástica não é um apanhado de desvarios para os quais não se sabe impor um final. Cortázar era um intelectual estético - coisa rara! Sabia meditar sobre as ideias, explorá-las até os limites, testar suas possibilidades - e depois, sabia dizê-las de um jeito inigualável, com imagens anti-banais... Tudo aquilo que se quer numa literatura de verdade! É simples como ele dizia, na "Teoria do túnel": "O paraíso existe e só falta habitá-lo sem resistência."

sábado, 11 de junho de 2011

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A peça aos pedaços

            Foi – uma peça em pedaços, da companhia Vão, estreou quarta-feira passada num mirante de 360°, um cenário vivo de Fortaleza. Embora o espetáculo pudesse acontecer em diversos lugares, este escolhido (onde funcionava o antigo restaurante Platoh, na Torre Quixadá) adaptou-se de forma perfeita à proposta. Cada “pedaço”, fragmento ou esquete se passa numa fatia do ambiente, valorizando os elementos que a paisagem noturna oferece. A luz, o vento e o som do espaço externo entram em simbiose com a peça e colaboram para a atmosfera, inventando um tipo de  cumplicidade, uma conspiração positiva entre teatro e cidade.
            Jadeilson Feitosa, o único ator em cena, desdobra-se em histórias e caminhos abertos pelo texto e pela direção de Rafael Martins. A plateia transita de um local para outro – e tem suas emoções também deslocadas, conforme as alternâncias de humor ou melancolia expostas. No segundo “pedaço”, esse jogo alcança uma dimensão vertiginosa e desconcertante, própria para que se ponham em xeque questões referentes ao fazer teatral – e os espectadores, como parte integrante dessa cadeia, são envolvidos em dúvidas e manobras psíquicas. Nesse momento, o cenário  (na criação de Raíssa Starepravo) atinge grandeza simbólica: a mangueira de água funciona alternadamente como lanterna, microfone ou tubo de oxigênio, enquanto o ator se multiplica em personagens e enredos possíveis.
            No “pedaço três”, Jadeilson Feitosa alcança toda a sua extensão dramática, numa cena que não por acaso se apresenta literalmente suspensa. Um suporte metálico reproduz um novo mirante para o monólogo. O tema – uma relação de amor fracassada e conflituosa – lembra que tudo na vida passa por seu dilema, seu instante interrompido ou “pendurado”: uma fase de absurda solidão, ainda que se esteja diante do mundo, do formigueiro de luzes urbanas. As coisas ao final se reduzem à poeira, ao vento que carrega partículas do que quer que seja. A reflexão e a melodia, em tom de tristeza poética, remetem ao espetáculo anterior do grupo, o belíssimo En Passant.
            Mas Foi tem seus lances bem humorados, igualmente. As histórias de abertura e fechamento exploram essa tônica, embora não de forma idêntica. Na primeira, o riso talvez esteja mais na atuação que no enredo, abordando uma rotina (des)controlada em sua progressão de atos e objetos. No quarto “pedaço”, entretanto, o texto ganha um sabor de riso ancestral, com seus versos pícaros, suas situações de non sense, perfeitas para compor um retrato de facetas inconstantes. Esse retrato não é apenas o de um personagem, mas o de qualquer pessoa sujeita a desvios de destino, mudanças e escolhas imprevistas. Um modo criativo de selar o rodízio que a peça propôs – inclusive em termos físicos, já que durante a última cena o piso gira (de forma imperceptível, vale dizer).
Ao fim do espetáculo, todas as partes se juntam na dramaturgia: cada “pedaço” singular por sua ênfase, mas unido aos demais pela ligadura de tema ou estilo. Quem acompanha o trabalho desses talentosos artistas já sabe o que vai encontrar. Mas, dessa vez, por conta do espaço escolhido, ainda se acrescenta um horizonte mágico à experiência estética. 

Tércia Montenegro (crônica publicada hoje na coluna Opinião do jornal O Povo. Está disponível também no portal http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2011/06/08/noticiaopiniaojornal,2254023/a-peca-aos-pedacos.shtml)


                                                                                                                                      

terça-feira, 7 de junho de 2011

Alessandro Baricco

Hoje passei a tarde inteira lendo Novecento, para a prova oral de italiano. Somente agora, nos estudos do quinto semestre, tenho a chance de finalmente ler algo autêntico e bom, recomendado em sala. Claro que já me aventurava com uns contos do Calvino no original, mas sem grande disciplina. Com a história do Alessandro Baricco, mais longa, a experiência foi diferente - e fascinante. Não vejo a hora de terminar os estudos gramaticais, para poder em seguida fazer - como ouvinte - as disciplinas de letteratura italiana. Dante, Pirandello, Buzzatti e tanti altri me esperam, com a suavidade de sua dicção autêntica!
Imagino se um dia alcancarei um décimo dessa fluência de leitura no polonês também! Afff... É difícil! Mas tento ser dedicada...

Marcelino

Este lindo loiro é o Marcelino, irmão caçula do Juliano, filhos-felinos da Paula Izabela. Que tal essa pelagem tigresa, com a cauda no estilo persa? Irresistível!! Não fosse uma foto (virtual, ainda por cima), eu enchia de beijos!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

FOI - uma peça aos pedaços

Olhaí a ótima dica:

FOI – Uma peça aos pedaços, espetáculo da Cia. Vão de teatro,
com texto e direção de Rafael Martins.
Quartas e quintas de junho, às 20h, na Torre Quixadá (Av. Barão
de Studart, 2360). Informações: 8654.1234/ 8801.7226
Ingressos: R$ 20 (inteira), R$10 (meia) – Capacidade 30 pessoas.