LIVROS E BICHOS

Este é o blog da Tércia Montenegro, dedicado preferencialmente a livros e bichos - mas o internauta munido de paciência também encontrará outros assuntos.

domingo, 31 de julho de 2011

Péter Esterházy



Desde ontem estou lendo Os verbos auxiliares do coração, novíssimo lançamento aqui no Brasil, do húngaro Péter Esterházy. Sinto-me confusa. Por um lado, não nego a sensação de gratuidade que o livro me dá: parece uma obra escrita para catarse apenas, íntima e confusa demais. Por outro lado, desconfio da tradução, ou de aspectos culturais inalcançáveis, que me proíbem a exata compreensão - ou uma maior sensibilidade.
De toda maneira, é um título que vale, pela perturbação que traz, e certamente não é mal redigido. Mas deixa a sensação de que não vou me lembrar dele, não será uma obra que mereça releituras.
Ao mesmo tempo, carrego para onde vou a obra poética do Lorca, algo que saboreio nos intervalos...

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Dois ovnis e um ET




Prezados internautas interessados em assuntos de mistério sideral,
Estas fotos que aqui posto foram tiradas em Ouro Preto, em recente viagem que fiz, e trazem imagens intrigantes. A primeira é uma paisagem, capturada do alto do edifício da Casa dos Contos (onde o Cláudio Manoel da Costa, o Glauceste Satúrnio, personagem árcade, foi preso e enforcado - mas deixemos a literatura de lado, por enquanto...). Ela traz dois pares de luzes no canto esquerdo, bem no alto. A foto não foi tirada através de nenhum vidro, e não encontro explicação racional para estes faróis celestiais.
O segundo registro teve como intenção o cachorrinho na janela do sobrado. Porém, ao ver no computador, com um zoom ampliado, chama a atenção a figura que aparece na janela extrema do canto direito: tem uma silhueta humanoide e parece projetar os braços e um pouco da cabeça para a frente. Eu pensaria que é uma pessoa refletida, mas a cor da pele e o feitio das articulações parecem muito esquisitos...
Estou aceitando ideias que possam esclarecer estas aparições! Mandem mensagens, caso não receiem ser abduzidos!

domingo, 24 de julho de 2011

Amy

Ontem, em Guaramiranga, recebi a notícia da morte da Amy Whinehouse. Esse desfecho já tinha sido muito vaticinado (e até, morbidamente, recomendado, por fãs que preferem ídolos mortos a pessoas vivas em decadência), mas ainda assim eu me choquei. Lembro que foi nesta mesma paisagem, alguns anos atrás, que eu ouvi pela primeira vez o CD dela, sem acreditar que aquela voz poderosa não fosse de uma negra. Pois agora acabou-se o personagem, a fantasia, o sucesso doente. Pobre Amy! Foi um marionete na mão da imprensa marrom, dos traficantes, dos empresários. De sua curta vida, que prazeres reais ela tirou? Não acredito em glória póstuma; para mim, a única alegria real é a que se alcança em vida. Como artista tão talentosa, ela não precisava se esfacelar de tal jeito para virar um mito... E o nojento da história é que agora todo esse jornalismo que vendeu milhões em cima de seus escândalos vai vender outros tantos com a construção de uma mártir - coisa que Amy nunca foi.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Pobre Alphonsus

Em Mariana, conheci a casa em que viveu Alphonsus de Guimaraens, aquele poeta das catedrais, místico e dolorido, de quem sempre amei os singelos versos sobre a louca Ismália. Vamos lembrar?

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Ontem foi o dia do amigo!

Esta mensagem chega atrasada, já sei - mas ainda assim não resisto a copiar a imagem do lado, que achei num blog maravilhoso, "O pulo do gato". Porque quanto aos amigos humanos, ontem consegui contatar quase todos os que fazem a minha vida divertida e agradável. Mas e quanto aos bichanos? São eles os amigatos de toda hora mesmo, com sua sabedoria de silêncio (claro, às vezes pontuada de miados em protesto por uma ração atrasada...). Então, quem não sabe o que é viver com um gato - eu lamento!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Crônica de Minas

Amigos,

Esta crônica é a crônica da viagem. Foi publicada hoje, no jornal O Povo. Está disponível também no portal http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2011/07/20/noticiaopiniaojornal,2269281/cronica-de-minas.shtml



CRÔNICA DE MINAS

Passei uma semana em Minas Gerais, no rastro de sua riqueza histórica e literária. Mas o que começou como um pequeno turismo se transformou em algo muito maior. Eu levava, claro, um roteiro prévio, com vários nomes de igrejas e museus, mas em certo instante me desprendi das visitas obrigatórias – e foi quando as minhas paisagens internas, meus pensamentos e desejos se contaminaram por Minas. Tornaram-se também montanhosos e vastos, largos a perder de vista.
            São João Del Rei era a primeira parada – porém, no caminho, tabuletas anunciavam petiscos e delícias nas cidades próximas. Em Lagoa Dourada, havia o “autêntico rocambole” e, em São Brás do Suçuaí, a “legítima empada”. Como não tenho grande resistência com tentações culinárias, logo me rendi a essas iguarias, que, com o café e o pão de queijo, construíram um quarteto perfeito.
            Ao viajar por Congonhas, Ouro Preto e Mariana, aprendi sobre pedra-sabão, madeira, estanho, cachaça e bolos. Subi por ladeiras impossíveis e desci por subterrâneos de garimpo. O meu amado corajosamente guiava por estradas quase espiraladas, enquanto o nosso GPS se perdia para mais adiante se achar, repetindo sempre, numa convicção de teor político: “Mantenha a esquerda”.
            Em Tiradentes, tive múltiplos assombros. Na matriz de Santo Antônio, cada altar explodia em dourado. Cabeças de anjo surgiam como bonecas mutiladas em todas as reentrâncias, desabrochando nas folhas de louro. Havia serafins com jeito de anão, querubins segurando pilastras e outros anjos em posturas etruscas. Alguns, aos pares, pareciam xipófagos contorcidos numa agilidade pétrea. Os enormes turíbulos eram sustentados no infinito por medonhas aves – e não me esqueço das curiosas figuras no altar-mor: duas vestais meio lânguidas, ao lado de dois titãs, seguravam guirlandas rígidas.
            Foram diversos museus, com oratórios, relicários e estátuas raras – mas talvez a maior impacto tenha acontecido em Ouro Preto. Quando eu já sentia vertigens de tanto admirar afrescos e batistérios, tomei a decisão de entrar em apenas mais uma igreja, aquela que estava por perto e nem era tão famosa assim... Pois foi ali que, numa cripta gelada, encontrei um cristo do Aleijadinho. Era justamente a escultura que, duas décadas atrás, serviu de modelo – em olhos, nariz e traço de sobrancelhas – para o cirurgião do Michael Jackson. Ora, quem diria que o rei do pop teria a sua face inspirada pelo barroco brasileiro? Mas é isso mesmo! Já diziam os antigos sábios mineiros: o mundo é curvilíneo.

Tércia Montenegro (escritora, fotógrafa e professora da UFC)

domingo, 17 de julho de 2011

Fim de semana frenético

Estou numa febre poética, desde ontem movida a versos que não param de surgir, exigindo que eu ande com caderninhos para cima e para baixo, sem sossego algum. Mas também, desisti de lutar contra esses ímpetos literários; antigamente, eu reagia dizendo a mim mesma que era prosadora, e só. Hoje já não sei mais o que sou ou faço: sei que sou tremendamente feliz quando escrevo - e isso basta.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Retomando...

Amigos, voltei ontem de uma ótima estada em Minas! Estou retomando a rotina, com os mil afazeres de quem deixa as coisas suspensas por uma semana (mas como é bom largar tudo de vez em quando!). Aguardem novidades neste blog e, para breve, as impressões da viagem.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Fora da rede

A partir de amanhã e até o dia 14, estarei sem acesso à internet, viajando pelo Brasil adentro. Então, aguardem esse prazo para novas postagens. Quem quiser me enviar e-mail ou me achar pelo celular também terá de ter a mesma paciência - quando eu viajo, me desligo de tudo mesmo, e a única máquina que me acompanha é a câmera fotográfica, por motivos óbvios.
Então... que venha o recesso! Até a volta!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Alívio cômico

Amigos,

Se puderem, leiam minha crônica, publicada hoje no jornal O Povo e disponível também no portal http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2011/07/06/noticiaopiniaojornal,2264146/alivio-comico.shtml


ALÍVIO CÔMICO

            Sempre comemoro intervenções bem-humoradas e inteligentes, capazes de quebrar as rotinas circunspectas. Foi, portanto, com grande prazer que tomei conhecimento do projeto “Alívio cômico”. A proposta, criada pelo artista Paulo Montserrat, teve sua divulgação na última quinzena, provocando reflexões, risos, protestos e constrangimentos – tudo o que uma ideia interessante pode ocasionar.
            Para quem não ficou sabendo, seguem explicações: o projeto se materializou através de falsos anúncios publicados em dois jornais cearenses, e o objetivo era conferir as reações do público. Conforme os leitores reagissem, telefonando para os números de celular adquiridos especialmente para esta finalidade, Paulo Montserrat fazia um “levantamento da perspicácia”, observando quantas pessoas compreenderam o ludíbrio, em oposição àquelas que acreditaram nos pseudo-anúncios. Claro que estabelecer a distinção não era fácil, sobretudo porque os textos do projeto circularam misturados a todos os outros reais, na múltipla seção dos classificados. Não havia nada que os distinguisse, nenhuma letra diferente ou moldura especial. Somente a informação seria capaz de despertar a suspeita de que aquilo era mesmo um “alívio cômico”, em meio a avisos sobre vendas, aluguéis e profissões.
            Assim, por exemplo, na seção dedicada aos profissionais, encontravam-se coisas do tipo: “PROCURA-SE ENGENHEIRO. Centro de Estudos Espaciais contrata engenheiro de crateras lunares. Deve ser poliglota e telepata”. E houve quem se candidatasse... Outro anúncio era de uma suposta desempregada oferecendo seus talentos: “Ventríloqua de peixes, com grande experiência em circo e festinhas infantis. Também realiza dublagens e faz cover da Amy Whinehouse”. Várias ligações telefônicas comprovaram o interesse do mercado. Em compensação, o anúncio da massagista que se dizia “especialista em genitálias e joelhos, com larga experiência em mutilados de guerra” recebeu apenas a ligação de um estrangeiro (com forte sotaque), que perguntava se a tal moça por acaso não tinha nascido no Vietnã.
            Paulo Montserrat concluiu que os anúncios de teor mórbido quase não atingem o efeito de humor, ao passo que os exóticos ou simplesmente bizarros têm alta adesão. Senão, como explicar o recorde de 32 chamadas em um único dia, para responder ao anúncio erótico de uma suposta russa que prometia: “Faço sexo oral enquanto recito Maiakósvki na língua de sinais”? Esta marca quase empatou com um anúncio de procura para “ufólogo profissional ou amador, com pelo menos três relatos comprovados de contato sideral. Abdução imediata”. 29 pessoas telefonaram, dispostas a viajar para bem longe deste nosso planeta cruel. Ganharam, ao menos, uma pausa para o espanto e a risada.

                          Tércia Montenegro (escritora, fotógrafa e professora da UFC)

terça-feira, 5 de julho de 2011

Louise Bourgeois

Pesquisando obras da artista, encontrei na internet imagem desta sua peça impressionante, Arch of Hysteria, de 1993.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Cabauêba no TJA

Não dá para perder!

domingo, 3 de julho de 2011

Prazo final

Fim-de-semana tristíssimo, pensando na dor da minha amiga Paula, por causa da morte do seu Marcelino. Para não me entregar de vez à melancolia, joguei-me na escrita dos últimos capítulos de um livro que venho arrastando há muito tempo. Já sei que o resultado não me agradará totalmente, mas preciso concluí-lo, para expurgá-lo. Quando a gente remói demais uma história, parece que ela nos intoxica e envenena.